terça-feira, 22 de junho de 2010

Seu Ari, Loiva e Maria Alice no entorno da pedreira

Apresentação: O texto abaixo trata de uma saída de campo com o objetivo de encontrar uma senhora filha de antigo trabalhador das pedreiras da região. No caminho até sua casa, conheço outra filha desses falecidos trabalhadores. Sendo ambas vizinhas e amigas, a pesquisa passa a problematizar a questão dos laços de trabalho e de vizinhança no local.
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS.
Fonte: Coleção do Projeto BIEV: a construção de um museu virtual da cidade
Autor: Stéphanie Ferreira Bexiga (Bolsa PIBIC/CNPq)
Local: Rua Bazílio Pellin Filho, Bairro Tristeza (Porto Alegre/RS)
Data: 02/05/2010
Tags: Tecendo a Observação Participante
Peguei uma carona até a parada (de ônibus) mais próxima da entrada do Sétimo Céu, e por ali comecei a caminhada; era cerca de 14h20. Continuei subindo a entrada desse reduto e, ao chegar na esquina do muro de cor salmão, vi que ele havia sido pintado e o pátio, “remexido”: sem a alta vegetação, restando apenas aquela grande árvore no meio, da qual Vitor há muito havia me falado.
Segui meu caminho: virei à esquerda na próxima rua [de paralelepípedos] e dali segui reto até a casa de Maria Alice. (...) Caminhei calmamente pela rua de “chão batido”, Bazílio Pellin Filho, e logo avistei uma senhora, de costas, segurando um bebê. Como uma tática utilizada em outra saída de campo na Tristeza, aproximei-me e cumprimentei-as, dando uma atenção maior à pequena Manuela; comecei a conversar com elas. E dona Loiva começou a me dar pistas das suas memórias: “Eu me criei aqui no morro”, perguntando-me logo depois se eu morava por ali: “Não, mas eu vim visitar uma pessoa que mora aqui, não sei se a senhora conhece,a Maria Alice?!”. Ela logo falou “ahh sim, uma morena? Ela mora ali (apontando com a mão), sim, conheço, o pai dela trabalhou com o meu na pedreira”.
Perguntei-lhe sobre a relação entre os vizinhos, já que ela havia me falado de Maria Alice, e Loiva me fala que além de seus pais, tinha o “Seu Ari”, que morava no lugar onde hoje é a estação do DMAE, “é, depois venderam pro Dmae, mas era o Seu Ari que morava ali, mas aí agora já foram embora”. Já ela e sua família... “de lá até aqui é tudo minha família. Ta vendo aquele guri lavando o carro? Aquele lá é meu sobrinho, ele ta fazendo faculdade também (a essa altura eu já havia lhe falado da pesquisa e do curso), Engenharia, até se tu quiser falar com ele também...eu posso te ajudar nessa tua pesquisa, é só tu me dizer...”
Pistas teóricas já relatavam a existência dessa “comunidade de trabalho” (Eckert, 1993), mesmo que, numa conversa com Maria Alice, ela havia reforçado que só sua família vivia ali; não sei muito bem o que ela quis dizer com isso, talvez estivesse se referindo a um certo territorio que fosse, primordialmente, de seu pai e família, pois, como vi, o beco 1, onde fica sua casa, parece ter uma certa divisão com a área a qual se referia dona Loiva: as casas de sua família tinham frente para a rua Bazílio Pellin Filho, enquanto as de Maria Alice e demais moradores do beco, faziam uma espécie de círculo, voltando suas portas para as ruelas do interior. Cheguei a perguntar para Loiva como se chamava aquela parte onde mora e ela me disse que até a estação do DMAE é Sétimo Céu; fronteiras simbólicas e geográficas que talvez estivessem reclamando sua descoberta.
Referências Bibliográficas: ECKERT, Cornelia. Memória e Identidade – Ritmos e Ressonâncias da Duração de uma Comunidade de Trabalho: Mineiros do carvão (La grand-Combe, França). Cadernos de Antropologia, n11. Porto Alegre, 1993.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Narradores Urbanos - Teresa Caldeira

Apresentação: As fotos abaixo foram feitas na gravação do documentário Narradores Urbanos, em uma entrevista com Teresa Caldeira. Nelas, estão: Rafael Devos, Viviane Vedana, Cornelia Eckert, James Holston e a própria Teresa.
Tags: Eu Estive Lá









quarta-feira, 2 de junho de 2010

O “Foot-ball” menor e amarelado...

Apresentação: Folhar as páginas e fotos amareladas de um acervo é sempre um trabalho interessante e lúdico para a memória do pesquisador. Através do diário de campo, é possível em alguns momentos mostrar essas múltiplas facetas e jogos que ocorrem na memória e nas intersubjetividades presentes na pesquisa etnográfica.
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Coordenadores: Ana Luiza Carvalho da Rocha e Cornelia Eckert
Fonte: Coleção Futebol de várzea, Sociabilidade e Memória do Trabalho, ligada ao projeto Estudos etnográficos em antropologia visual e sonora em sociedades complexas.
Autor: Rafael Lopo (mestrando, bolsista CNPQ)
Data: 07 de junho de 2010
Local: Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, Porto Alegre, RS
Tags: Os interiores da pesquisa etnográfica

Ao começar a folhar as páginas, começo a ficar extasiado, e até um pouco desnorteado. Das reportagens extremamente cuidadosas sobre o “choque-rei” do futebol gaúcho, aos confrontos dos times da região metropolitana, me sinto pequenino, entrando no reino dos chapéus panamás e falando com um coelho. Brincadeiras a parte, há muita informação que deslocaria qualquer aprendiz de etnógrafo desatento de seu objetivo de pesquisa. Começo tirando algumas fotos por curiosidade. Os cartazes de cinema me lembram da fala de seu Estevão. Do filme Belinda, ao líder de bilheteria de James Dean, Juventude Transviada, que estava em cartaz no cine Vitória e no Eldorado. As notícias de trânsito e da Voluntários me lembram das outras pesquisas do BIEV, e a maioria das imagens me faz pensar nestas múltiplas e metamorfas feições do tempo na cidade de Porto Alegre. Anúncios de terrenos na Vila Safira, notícias de campeonato de carrinho de lomba (!), tudo me parece ser fundamental para minhas coleções...


Depois de dois ou três exemplares sem nenhuma notícia sobre o futebol de várzea, começo a me tomar por um certo desânimo reflexivo. Desânimo, porque fiquei sem achar nada sobre o futebol de várzea, e reflexivo porque comecei a pensar na relação com o futebol profissional, e imaginei que talvez nem existisse assim esse abismo de diferença que é proclamado nas eras de Ronaldinhos, transações de além-mar, salários “milionétricos” e Copa do Mundo no Brasil!!! Eis que surge, como um elo perdido, o cálice sagrado (do Monty Phyton), a expressão que brilharia por muitos e muitos números da Folha Esportiva: NO SETOR DO FOOT-BALL MENOR...


Sim!!! O “Foot-ball” menor tinha sim seu espaço, e craques como Alfeu e Bicudo, Picolé e Latinha podiam ser elogiados por grandes jornalistas como Walter Galvani, Tulio de Rose, e obviamente, seu Jorge Mendes. Na verdade, nunca apareceu, como era comum em jornais antigos, nomes específicos do autor das reportagens, e isso é algo para se perguntar na entrevista com seu Jorge!