sexta-feira, 26 de junho de 2009

(Re)Conhecer a Vila: um percurso nos arredores do bairro Tristeza

Apresentação: Em busca das formas de se habitar as ruas do bairro Tristeza, na zona sul de Porto Alegre/RS, percorri outros lugares que me levavam a ele. Os fragmentos de diário de campo trazidos aqui são algumas descrições do cenário urbano que observei nesse trajeto.
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção Projeto BIEV: A criação de um museu virtual da cidade - FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Stéphanie Ferreira Bexiga – bolsista PIBIC/CNPq
Local: Porto Alegre/RS
Data de produção: 16/03/08 e 01/09/08
Tags: Os passos perdidos da etnografia



Um mormaço pouco incentivante para caminhada, mas como já estava próximo das 16hs, o calor não estava tão intenso. Assim, parti em direção à Tristeza começando pelas ruas de paralelepípedos do lugar onde moro (bairro Ipanema, ‘emicamente’ Jardim Isabel). Percorro a rua. As sonoridades de hoje encontram-se com aquelas do dia 17 de julho (em que fizemos a captação sonora), e vejo, de forma mais atenta, talvez justamente pelo que Vivi e eu percebíamos nesse mesmo dia, recorrências daquela sociabilidade entre os funcionários dos “belos” condomínios ali instalados – aqueles com praia particular: na av. Cel Marcos, com margens para o rio Guaíba. (Diário de campo, 01/09/08).

Continuei meu trajeto subindo a lomba que demarca, a meu ver, as fronteiras entre os bairros da Tristeza, Vila Conceição e Pedra Redonda e, mais uma vez, me indignei com o estado das calçadas nesse trecho – não só neste trecho, mas na maior parte do trecho compreendido entre a Vila Conceição e minha casa – pois acho que a largura da calçada é de 1m e é realmente difícil caminhar ali; isso me parece muito um favorecimento do trânsito de automóveis e não de pedestres! Os ônibus, anunciados pelos volumosos son
s de seus motores, passam por ali com uma velocidade que me assusta um pouco. Seus vaivéns, assim como de outros carros, se interrompem e se prolongam pela avenida, diferentemente do que ocorre no interior da Vila Conceição. É nessa lomba que se situa, do lado direito de quem vem do centro, a Vila Conceição, muito diferente daquela que eu entro posteriormente: uma mistura de casas de concreto e madeira pequenas – se comparadas às casas da outra parte da Vila –, as cercas feitas de diversos tipos de material, como sem um padrão, faixas e-ou placas nas fachadas das casas com coisas do tipo “Faço Carreto”, crianças jogando bola e um senhor sentado num banquinho próximo à avenida. Esse conjunto, como se nos aparece, lembra uma bricolagem, uma “colcha de retalhos”.

Mais adiante está a entrada, que considerei como principal, da Vila Conceição, na Rua Picasso. Construída em cima da onde passava o trem (como conta meu pai) – olhando para baixo podemos ver o arco de pedra por onde o trem passava e o caminho dos trilhos, mas não vi os trilhos – essa entrada se apresenta pra mim como uma sobreposição de camadas, não só de concretos mas, de tempos outros que parecem nos convidar a lembrá-los, pois essa paisagem parece guardar um mistério, como se tivesse que descobri-lo, procurá-lo. Logo ao entrar na rua, observo uma casa que eu já havia visto antes mas ela parece diferente, tive a sensação de que parte da casa tinha sido demolida, ... não sei, mas é antiga, grande, de cor branca e janelas azuis. É nessa casa, a primeira a se ver na Vila, que a rua se bifurca em T, podendo, então, se seguir à direita ou à esquerda para continuar no bairro. Ignorando todas as crenças e concepções acerca do “direito” e do “esquerdo” – (“A preeminência da mão direita – um estudo de polaridade religiosa”, de Hertz) – optei por dobrar à esquerda e a partir dali (re)conhecer a vila. (Diário de campo, 16/03/08).

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