domingo, 5 de julho de 2009

Embarque de passageiros – Linha Passo da Figueira/Ipiranga

Apresentação: A partir de um trecho de diário de campo relatando uma saída de etnografia de rua na cidade de Porto Alegre, podemos pensar a partir de uma única rua, transformações urbanas em uma cidade que se moderniza, mas que deixa pistas de outros momentos, mostrando uma diversidade das formas sociais que habitam um mesmo lugar.
Fundo de origem: Acervo do BIEV - BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Local: Alvorada/RS
Data de produção: 24/02/2009
Tags: "Os passos perdidos da etnografia"


Um dia comum... Mas não para a aprendiz de etnógrafa que vai a campo em busca das sociabilidades, do comportamento e das práticas sociais dentro de um transporte coletivo (ônibus). Nesse pequeno fragmento de diário de campo, nos deparamos com pessoas comuns no seu cotidiano.

“O ônibus era um dos novos (azul e articulado). Não estava cheio, havia alguns lugares vagos. Sentei no primeiro banco após passar a roleta, do lado oposto ao do cobrador. Como estava muito próxima a roleta, pude observar toda a movimentação daqueles que embarcam. Após sentar-me e pegar o meu caderno de notas, entrou uma senhora alta, negra, que se aproximou do cobrador e mostrou a carteira de identidade, ela falou algo que não pude identificar e o cobrador respondeu que ela poderia ficar, mas que o fiscal iria olhar. Após esse ocorrido, me virei para trás e comecei a perceber o alto volume das conversas no fundo do ônibus, virei para frente com a intenção de ver quem estava sentada do meu lado, sabia que era uma mulher, mas não pude perceber as suas feições e vestimentas, pois fiquei com medo de que ela percebesse e pensasse que eu a estava “encarando”. Minha atenção se voltou para frente do ônibus, num momento de embarque. Uma senhora negra de estatura mediana entra cumprimentando o motorista e algumas das mulheres que estão nos bancos da frente, antes da roleta.
Ela ficou em pé, em frente a uma senhora loira que estava sentada (lado direito/ cobrador); conversaram um pouco e ela se virou para falar com outra senhora que estava sentada no lado oposto (lado esquerdo/motorista).
No momento em que a senhora negra se vira, a mulher loira que está sentada colocou a mão nas costas da mulher negra, mais precisamente no decote da blusa que tinham alguns detalhes em pedras, a mulher loira comentou alguma coisa sobre a blusa, a mulher negra respondeu algo e se voltou para o outro lado na intenção de falar com a outra senhora que estava no outro banco. Mais um embarque de passageiros acontece, dessa vez quem chamou a minha atenção foi um rapaz, branco e alto, devia ter em torno de 30 anos. Vestia calça e camisa social e o mais interessante é que tinha em suas mãos uma caixinha de suco. Pensei na correria do dia a dia, deduzi que ele devia ter saído atrasado de casa e pegou esse suco para poder enganar a fome durante o percurso. Juntamente com esse rapaz embarcou uma senhora, aparentava ter 40 anos, de pele morena e cabelos encaracolados. Ela entrou cumprimentando as mesmas senhoras que a senhora negra que havia embarcado, anteriormente, havia cumprimentado, inclusive a própria senhora negra. Após os cumprimentos, a senhora foi até o cobrador lhe entregando o dinheiro da passagem e dizendo: ‘vou te dar o dinheiro agora se não vai ficar suando na minha mão’. O cobrador pegou o dinheiro sem esboçar nenhuma reação.”

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