Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção do Projeto Habitantes do Arroio
Autor: Renata Tomaz do Amaral Ribeiro – Discente Voluntária
Local: Rua Beco dos Marianos, Bairro Agronomia, Porto Alegre/RS.
Data: 2010
Tags: Os Interiores da Escrita Etnográfica
Parei em frente à associação de moradores, mas não havia ninguém por lá. Observei-a com calma, coisa que nunca havia feito antes. Estava deserta. Percebi que a sede era um grande galpão de madeira, com um campinho de futebol de chão batido e um antigo equipamento de elevar carros durante as manutenções, que anteriormente, assim como o galpão, pertencia à CEEE – Companhia Estadual de Energia Elétrica. Ainda em frente à associação na Rua Beco dos Marianos, me virei para trás e lembrei a bela paisagem que Luna e eu havíamos visto em outra oportunidade naquele local. Porque sou baixinha, tive que subir em uma pedra de barro lá existente.
Fiquei extasiada com a imensidão e com a beleza do que eu estava vendo. Apreciei por alguns minutos aquele momento de imponência e grandiosidade. Lá do alto tudo estava tão pequeno, era como se eu pudesse pegar Porto Alegre em minhas mãos. Foi uma experiência sentida com a alma. Era como se meus olhos estivessem desvendando um gigantesco quadro em aquarela. Um céu todo azul, pintado no fundo da tela e enormes prédios, vistos lá do alto, tão pequeninos que pareciam ter sido delineados pelas mãos de um artista. Extensas avenidas como a Av. Ipiranga e a Bento Gonçalves naquele momento cabiam inteiras no meu campo de visão. Do topo do morro, eu conseguia percorrê-las mais rápido que um automóvel, ou do que qualquer outra tecnologia, meu olhos chegavam ao centro da cidade em frações de segundos. Como se não bastasse o autor dessa aquarela foi bastante crítico, pois não se esqueceu de também esboçar na sua obra, “as margens da sociedade”.
Desci da pedra de barro e continuei meu trajeto. Enquanto caminhava em direção à avenida, comecei a ouvir uma batida, um som conhecido. Era da Banda Nirvana: “With the lights out it's less dangerous” vindo de uma casa de alvenaria, sem reboco e com as janelas abertas. Ao ouvir aquela música, logo me lembrei de quando eu era menina, pois adorava “Smells Like Teen Spirit”, o título da melodia que estava tocando naquele momento. Continuei meu trajeto e aos poucos aquele som foi diminuido até desaparecer ao confundir-se com o barulho dos automóveis que passavam pela Av. Bento Gonçalves, um pouco mais adiante.
Rapidamente eu já estava no pé do morro, a caminho da faculdade de Agronomia. Como diz aquele ditado: “para descer todo santo ajuda”. Chegando ao destino, fui em direção ao portão que cerca o arroio. Observei-o: a mata ciliar era mais evidente e o cheiro de esgoto, bastante forte. O ambiente na faculdade estava calmo e por isso foi possível também ouvir a água do arroio correndo lentamente. Mas não me demorei muito e fui-me embora, porque ainda deveria ir ao Instituto. Em direção à parada do ônibus ia pensando: “os primeiros estudantes da Faculdade de Agronomia devem ter aproveitado as águas do arroio, nos dias quentes de verão para se refrescarem”.
Indicação de textos que de alguma forma perpassam a questão da interioridade:
• A Poética do Espaço de Gaston Bachelard;
• A interioridade da experiência temporal do antropólogo
como condição da produção etnográfica de Ana Luiza Carvalho da Rocha e Cornelia Eckert;
• Antropologia das formas sensíveis: entre o visível e o invisível, a floração de símbolos de Ana Luiza Carvalho da Rocha.
Fonte: Coleção do Projeto Habitantes do Arroio
Autor: Renata Tomaz do Amaral Ribeiro – Discente Voluntária
Local: Rua Beco dos Marianos, Bairro Agronomia, Porto Alegre/RS.
Data: 2010
Tags: Os Interiores da Escrita Etnográfica
Parei em frente à associação de moradores, mas não havia ninguém por lá. Observei-a com calma, coisa que nunca havia feito antes. Estava deserta. Percebi que a sede era um grande galpão de madeira, com um campinho de futebol de chão batido e um antigo equipamento de elevar carros durante as manutenções, que anteriormente, assim como o galpão, pertencia à CEEE – Companhia Estadual de Energia Elétrica. Ainda em frente à associação na Rua Beco dos Marianos, me virei para trás e lembrei a bela paisagem que Luna e eu havíamos visto em outra oportunidade naquele local. Porque sou baixinha, tive que subir em uma pedra de barro lá existente.
Fiquei extasiada com a imensidão e com a beleza do que eu estava vendo. Apreciei por alguns minutos aquele momento de imponência e grandiosidade. Lá do alto tudo estava tão pequeno, era como se eu pudesse pegar Porto Alegre em minhas mãos. Foi uma experiência sentida com a alma. Era como se meus olhos estivessem desvendando um gigantesco quadro em aquarela. Um céu todo azul, pintado no fundo da tela e enormes prédios, vistos lá do alto, tão pequeninos que pareciam ter sido delineados pelas mãos de um artista. Extensas avenidas como a Av. Ipiranga e a Bento Gonçalves naquele momento cabiam inteiras no meu campo de visão. Do topo do morro, eu conseguia percorrê-las mais rápido que um automóvel, ou do que qualquer outra tecnologia, meu olhos chegavam ao centro da cidade em frações de segundos. Como se não bastasse o autor dessa aquarela foi bastante crítico, pois não se esqueceu de também esboçar na sua obra, “as margens da sociedade”.
Desci da pedra de barro e continuei meu trajeto. Enquanto caminhava em direção à avenida, comecei a ouvir uma batida, um som conhecido. Era da Banda Nirvana: “With the lights out it's less dangerous” vindo de uma casa de alvenaria, sem reboco e com as janelas abertas. Ao ouvir aquela música, logo me lembrei de quando eu era menina, pois adorava “Smells Like Teen Spirit”, o título da melodia que estava tocando naquele momento. Continuei meu trajeto e aos poucos aquele som foi diminuido até desaparecer ao confundir-se com o barulho dos automóveis que passavam pela Av. Bento Gonçalves, um pouco mais adiante.
Rapidamente eu já estava no pé do morro, a caminho da faculdade de Agronomia. Como diz aquele ditado: “para descer todo santo ajuda”. Chegando ao destino, fui em direção ao portão que cerca o arroio. Observei-o: a mata ciliar era mais evidente e o cheiro de esgoto, bastante forte. O ambiente na faculdade estava calmo e por isso foi possível também ouvir a água do arroio correndo lentamente. Mas não me demorei muito e fui-me embora, porque ainda deveria ir ao Instituto. Em direção à parada do ônibus ia pensando: “os primeiros estudantes da Faculdade de Agronomia devem ter aproveitado as águas do arroio, nos dias quentes de verão para se refrescarem”.
Indicação de textos que de alguma forma perpassam a questão da interioridade:
• A Poética do Espaço de Gaston Bachelard;
• A interioridade da experiência temporal do antropólogo
como condição da produção etnográfica de Ana Luiza Carvalho da Rocha e Cornelia Eckert;
• Antropologia das formas sensíveis: entre o visível e o invisível, a floração de símbolos de Ana Luiza Carvalho da Rocha.