quinta-feira, 7 de abril de 2011

Breve análise do estudo o Caso do Beco dos Marianos

Apresentação: Este exercício foi desenvolvido no GT de escrita e leitura etnográfica e busca fazer uma breve análise da minha pesquisa na região da
Rua Beco dos Marianos, baseando-se no artigo “O desafio da Cidade” de Gilberto Velho.
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção do Projeto Habitantes do Arroio
Autor: Renata Tomaz do Amaral Ribeiro – Discente Voluntária
Local: Região da Rua Beco dos Marianos no Morro Santana, Bairro Agronomia – Porto Alegre/RS.
Data: 20010
Tags: Caderno de Notas


Trecho de diário de campo Construindo novas perspectivas:

Enquanto nós olhávamos o seu lixo orgânico espalhado pelo pátio, ela pegou uma escada de madeira e a encostou no alto do muro que delimita seu terreno, para que pudéssemos ver o afluente. Deborah e eu subimos a escada um
a de cada vez. Lá de cima era possível ver a extremidade final do Acesso Heitor Pereira da Silva. Às margens do afluente havia muito lixo: restos de brinquedo, madeiras (acho que restos de casas), novamente sofás e muitos casebres extremamente miseráveis. Em meio a tudo isso galinhas e est rco de cavalo ainda fresco, o cheiro era bastante desagradável. O som daquele espaço chamou-me bastante atenção, pois o ruído da água era bastante evidente, ouvia-se a água correr fortemente por entre as pedras e objetos que ali foram descartados. Os animais também estavam presentes nesta paisagem: galos cantavam e cachorros latiam. Ao fundo era possível ouvir também o barulho de uma serra elétrica. Já em terra firme e não mais no alto de uma escada improvisada de madeira, Zenaide disse que muitos de seus vizinhos são funcionários da UFRGS.
Durante toda a conversa, Dona Zenaide pediu-nos que fôssemos à casa de seus vizinhos para intimá-los a não colocarem mais lixo e cavalos à margem do arroio. Pareceu-me que ela acreditava que nós éramos uma espécie de “autoridade”. Foi bastante difícil fugirmos desta estigmatização; contudo, penso que à medida que íamos aprofundando mais a conversa e dando explicações, ela ia se desvinculando desta idéia.


Breve análise da pesquisa feita com base no artigo “O desafio da Cidade” de Gilberto Velho.


Tendo em vista que o espaço que tenho estudado pertence a UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do sul – e que os moradores deste, têm um grande respeito por esta instituição, devido a questões hierárquicas, vivenciei durante minhas saídas a campo as vantagens e desvantagens de ser “pesquisadora” da UFRGS.
Gilberto Velho, em seu artigo O desafio da Cidade, analisa as dificuldades enfrentadas pelo pesquisador durante o campo. Velho, propõe dois importantes problemas a serem avaliados durante a etnografia: a) Estudar grupos do mesmo estrato social, com visão de mundo e ethos iguais ao do pesquisador; b) Situação em que me encontro – pesquisar grupos geograficamente próximos e socialmente distantes.
Ao desenvolver minhas saídas a campo tenho me deparado freqüente com a dificuldade de fazer meus informantes perceberem que não sou representante da UFRGS, mas sim pesquisadora; logo não estou ali em posição hierarquicamente superior e sim inferior, devido a minha ignorância em relação a coisas que somente eles podem me esclarecer.
Toda via em um primeiro momento, o fato de pertencer a UFRGS também facilitou a ocorrência dos primeiros contatos que tive com os nativos. Devido ao meu vinculo com esta instituição, muitos de meus informantes sentiam-se impelidos a conversar comigo – depois da minha formal apresentação, como pesquisadora – devido ao respeito que estes têm pela instituição.
Contudo, em um segundo momento de minha pesquisa, comecei a perceber a dificuldade de separar a instituição UFRGS, que esta intrinsecamente ligada a esta comunidade, de mim: estudante e pesquisadora. Durante muito tempo, para alguns de meus informantes, eu era considerada uma espécie de autoridade, que convenhamos, não cabe ao meu posto de pesquisadora sedenta pelas estórias que pretendia e pretendo ouvir destes interlocutores.
Hoje um pouco mais madura em relação a etnografia e a antropologia compreendo melhor o problema de estudar o “vizinho” dentro da problemática de ser o “outro” (Gilberto Velho).

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