sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Itinerários do futebol de Várzea: O Campo Do Murialdo


Apresentação: Dentre muitos percursos para se entender um pouquinho dos jogos de futebol de várzea de Porto Alegre, tive que percorrer alguns lugares para chegar ao meu principal campo de pesquisa. A pesquisa etnográfica dessa maneira teve seus rumos e suas decisões delimitadas pelas situações de campo e aceitação dos informantes... Eis aqui, a descrição e contextualização do “campo do Murialdo”:
Fundo de Origem:
BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção Rafael Lopo - Banco de Imagens e Efeitos Visuais.
Autor: Rafael Lopo, bolsista de IC.
Local: Bairro São José, Partenon, Porto Alegre
Data de produção:
30/04/2007

Tags: Os Passos Perdidos da Etnografia


Para chegar ao Murialdo preciso pegar o T4, descer na esquina da Aparício Borges com a Bento e pegar o Santa Maria. Poderia tentar descobrir o caminho a pé, andando, mas como é o primeiro dia, e não conheço muito o bairro, prefiro pegar o respectivo transporte coletivo. O ônibus demora um pouco, e passo por alguns lugares do Partenon pelos quais não conhecia. A surpresa vem rápido: o ônibus desce exatamente a uma quadra da esquina de onde fica o Murialdo. É só descer um pouco e dobrar à esquerda, que a esquina me leva ao encontro de sua irmã(no final da rua), onde é a “entrada” para o campo.
Sim, muitas palavras aqui terão de ser escritas entre aspas, porque o Murialdo não é exatamente um “campo”, não tem suas devidas “marcações”, a “arquibancada” é precária e o campo não tem limites muito bem definidos em um de seus lados. Queria poder scanear meu desenho ou mostrar aqui no diário as condições do “campo” do Murialdo, mas não há como fazê-lo senão pela escrita. Quando chego no campo fico impressionado com este novo lugar, este novo bairro, estes novos personagens e situações ao meu redor. O campo em uma encruzilhada, muitos bares, e conseqüentemente, gente bebendo por perto. Um mendigo que fala muitas coisas inteligíveis com seu cachorro e outros ébrios já de consciência notadamente alterada. Muitos dos expectadores e homens ao redor já se conhecem, se cruzam e se cumprimentam, se olham, se gozam, brincam com outros, e estão sempre às voltas do que acontece no campo. Um dos principais assuntos nas rodas de conversa é o jogo “das quatro”: Guarany contra Martins de Lima. (DIÁRIO DE CAMPO DIA 30/04/07)


O campo do Murialdo fica na parte dos fundos do colégio com o mesmo nome. O que marca a localização do campo é o encontro da rua “Martins de Lima” com a “Primeiro de Março”. Em um de seus lados, onde era antes a entrada, no meio da subida da rua Primeiro de Março, agora está erguido um pequeno vestiário e um bar. Para chegar até lá, somente entrando pelo imenso portão da esquina e caminhando por dentro do campo.
No limite da Martins de Lima, há um muro de pequeno porte que serve de base para a grade que fica mais acima. Dentro do campo não há nenhuma marcação, e nesta lateral, o que delimita onde pode e não se pode jogar é a presença de torcedores, banco de reservas e as árvores. Sim, pensei milhões de vezes se algum jogador nunca havia se machucado nestas árvores, mas deixarei estas fabulações para outra hora.


Como muitos campos, a grama é tímida, e só resolve dar seu “ar da graça” em cantos restritos e pequenos do campo. No outro lado, também não há marcação, e o limite é a elevada que serve de apoio aos bancos e à arquibancada. Porém, este espaço cativa em mim uma simpatia enorme. Talvez pela simplicidade, ou talvez pela sua proximidade com o bairro São José, no Partenon. A esquina onde está a sua entrada é cercada por dois ou três “butecos”, além de ser bem próxima da sede do Martins de Lima.
(DIÁRIO DE CAMPO DIA 30/04/2007)

Nenhum comentário:

Postar um comentário