terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Na Ilha do Presídio - 1998
Apresentação: Saída de campo realizada por Ana Luiza, Cornelia e Rafael na Ilha do Presídio, em Porto Alegre, 1998.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
XVIII Feira de Iniciação Científica - Parte 2
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
A Mudança da Terreira - Parte 1
Apresentação: Extrato de Diário de Campo relatando observação participante no primeiro dia da mudança da Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz do bairro Navegantes para o bairro São Geraldo.
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, estética urbana e patrimônio etnológico na era das textualidades eletrônicas.
Autor: Ana Paula Parodi Eberhardt (Bolsista IC/CNPq)
Local: Porto Alegre / RS
Data: 21/01/2009
Tags: Tecendo a Observação Participante
Já era quase nove horas da manhã, e começou a chegar mais gente: o Edgar, o Beto, a Roberta, o Saroba, o Lúcio, a Paula, o Cleber, a Paula Lages da escola, o Clélio, o Renan, a Judith e o Eugênio, o Jeferson, um pouco depois chegou Luciana e o Carlo, e mais depois o Alessandro, pensei que seria melhor eu começar ajudando no deslocamento das coisas e depois começar a tirar fotos, foi o Clélio ou o Pedro que sugeriram que se levasse para fora primeiramente os ferros, pois como são mais pesados seriam a base para as outras coisas no caminhão, estes ferros são, a maioria, para dar sustentação aos spots e cortinas, para pegá-los algumas pessoas pegaram luvas de pedreiro ou de lã, para por em uma das mãos, para poder carregar melhor os ferros que além de serem muito pesados estavam enferrujados e sujos. Este trabalho de carregar os ferros foi bem coletivo, pois como eram muito compridos e pesados precisavam de muitas pessoas para carregá-los e uma grande atenção uns com os outros, pois o espaço para o deslocamento era estreito e cheio de obstáculos, então tinha-se que ir para frente devagar e depois dobrar, sendo que às vezes ainda batia na parede, então tinha-se que voltar um pouco, as primeiras vezes foram mais vagarosas, mas depois foi ficando mais ágil, todos participaram, às vezes tinha umas oito pessoas em cada ferro (...) Devia ser umas nove e meia quando a Marta recebeu uma ligação “do cara do caminhão”, dizendo que o caminhão, que saía de Guaíba, tinha estragado e eles parecem que iram pegar outro, então avisaram que demorariam uma hora e meia a mais ou menos de atraso. (...)
Meio dia chega o caminhão. Começou-se novamente pelos ferros, e agora além do peso havia mais um agravante: o sol, que além de queimar a pele, deixou os ferros quentes, mas mesmo assim não parecia que as pessoas estavam desanimadas, muito pelo contrário a movimentação era bem alegre. Neste momento não ajudei, só tirei
fotos, primeiramente de maneira mais discreta, depois fui ficando um pouco mais confortável, teve uma hora que havia uma “fila” para colocar as madeiras no caminhão, então alguém perguntou, pra que tanta gente pra ficar segurando peso parado? E então o Paulo disse rindo: “pra sair na foto! pra Ana registrar!” então todos me olharam e riram.
Dentro da Terreira, por entre as últimas tábuas se via cada vez mais a terra, que parecia emergir como se sempre estivesse ali, acessível aos olhares e não tapado por madeira e concreto, era estranho, pois parecia que a Terreira já estava sendo desmontada, parecia que o prédio não estava mais inteiro, mas que algumas partes tinham desmoronado. Dentro do caminhão ficou quase que o dia inteiro o Eugênio, o Beto, e o Edgar, ajeitando como as coisas iriam ali dentro. As conversas eram bem poucas e quando ocorriam eram em movimento, geralmente sobre os materiais, o peso, o tamanho, e quantos carregamentos seriam precisos para levar tudo, quando alguém perguntava: “o que mais tem que ir?,” sempre alguém respondia: “tudo!.
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, estética urbana e patrimônio etnológico na era das textualidades eletrônicas.
Autor: Ana Paula Parodi Eberhardt (Bolsista IC/CNPq)
Local: Porto Alegre / RS
Data: 21/01/2009
Tags: Tecendo a Observação Participante
Já era quase nove horas da manhã, e começou a chegar mais gente: o Edgar, o Beto, a Roberta, o Saroba, o Lúcio, a Paula, o Cleber, a Paula Lages da escola, o Clélio, o Renan, a Judith e o Eugênio, o Jeferson, um pouco depois chegou Luciana e o Carlo, e mais depois o Alessandro, pensei que seria melhor eu começar ajudando no deslocamento das coisas e depois começar a tirar fotos, foi o Clélio ou o Pedro que sugeriram que se levasse para fora primeiramente os ferros, pois como são mais pesados seriam a base para as outras coisas no caminhão, estes ferros são, a maioria, para dar sustentação aos spots e cortinas, para pegá-los algumas pessoas pegaram luvas de pedreiro ou de lã, para por em uma das mãos, para poder carregar melhor os ferros que além de serem muito pesados estavam enferrujados e sujos. Este trabalho de carregar os ferros foi bem coletivo, pois como eram muito compridos e pesados precisavam de muitas pessoas para carregá-los e uma grande atenção uns com os outros, pois o espaço para o deslocamento era estreito e cheio de obstáculos, então tinha-se que ir para frente devagar e depois dobrar, sendo que às vezes ainda batia na parede, então tinha-se que voltar um pouco, as primeiras vezes foram mais vagarosas, mas depois foi ficando mais ágil, todos participaram, às vezes tinha umas oito pessoas em cada ferro (...) Devia ser umas nove e meia quando a Marta recebeu uma ligação “do cara do caminhão”, dizendo que o caminhão, que saía de Guaíba, tinha estragado e eles parecem que iram pegar outro, então avisaram que demorariam uma hora e meia a mais ou menos de atraso. (...)
Meio dia chega o caminhão. Começou-se novamente pelos ferros, e agora além do peso havia mais um agravante: o sol, que além de queimar a pele, deixou os ferros quentes, mas mesmo assim não parecia que as pessoas estavam desanimadas, muito pelo contrário a movimentação era bem alegre. Neste momento não ajudei, só tirei
fotos, primeiramente de maneira mais discreta, depois fui ficando um pouco mais confortável, teve uma hora que havia uma “fila” para colocar as madeiras no caminhão, então alguém perguntou, pra que tanta gente pra ficar segurando peso parado? E então o Paulo disse rindo: “pra sair na foto! pra Ana registrar!” então todos me olharam e riram.
Dentro da Terreira, por entre as últimas tábuas se via cada vez mais a terra, que parecia emergir como se sempre estivesse ali, acessível aos olhares e não tapado por madeira e concreto, era estranho, pois parecia que a Terreira já estava sendo desmontada, parecia que o prédio não estava mais inteiro, mas que algumas partes tinham desmoronado. Dentro do caminhão ficou quase que o dia inteiro o Eugênio, o Beto, e o Edgar, ajeitando como as coisas iriam ali dentro. As conversas eram bem poucas e quando ocorriam eram em movimento, geralmente sobre os materiais, o peso, o tamanho, e quantos carregamentos seriam precisos para levar tudo, quando alguém perguntava: “o que mais tem que ir?,” sempre alguém respondia: “tudo!.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
SIC 2009 - Parte 2
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
A Mudança da Terreira - Parte 2 - fotos
Apresentação: As imagens abaixo foram feitas pela bolsista Ana Paula na mudança da Terreira.
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, estética urbana e patrimônio etnológico na era das textualidades eletrônicas.
Autor: Ana Paula Parodi Eberhardt (Bolsista IC/CNPq)
Local: Porto Alegre / RS
Data: 23/01/2009
Tags: Interiores da Escrita Etnográfica
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, estética urbana e patrimônio etnológico na era das textualidades eletrônicas.
Autor: Ana Paula Parodi Eberhardt (Bolsista IC/CNPq)
Local: Porto Alegre / RS
Data: 23/01/2009
Tags: Interiores da Escrita Etnográfica
terça-feira, 24 de novembro de 2009
A Mudança da Terreira - Parte 2
Apresentação: Extrato de Diário de Campo relatando observação participante no último dia da mudança da Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz do bairro Navegantes para o bairro São Geraldo.
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, estética urbana e patrimônio etnológico na era das textualidades eletrônicas.
Autor: Ana Paula Parodi Eberhardt (Bolsista IC/CNPq)
Local: Porto Alegre / RS
Data: 23/01/2009
Tags: Interiores da Escrita Etnográfica
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, estética urbana e patrimônio etnológico na era das textualidades eletrônicas.
Autor: Ana Paula Parodi Eberhardt (Bolsista IC/CNPq)
Local: Porto Alegre / RS
Data: 23/01/2009
Tags: Interiores da Escrita Etnográfica
O Jeferson e o Eugênio estavam dentro do caminhão e arrumavam as coisas lá dentro. Algumas coisas eram postas dentro das prateleiras. Havia mais alguns materiais de cenário da Missão, mas já era bem pouco. A Judith tirou as lâmpadas de serviço e o Clélio tirou alguns fios elétricos e a porta de ferro, que segundo o Beto “é nossa, agente que colocou!”. Pensei então nessa apropriação, nesse “nossa”, pois sei que embora o Beto tenha uma ligação com as oficinas há algum tempo, ele entrou para o grupo há uns dois anos no máximo, mas ele falou como se ele tivesse estado ali, colocando a porta há uns dez anos atrás, quando a Terreira se mudou para ali, depois de ter sido despejada da Cidade Baixa. Pensei em quem haveria dito isso para ele, e como se deu este processo de apropriação, desse “nossa”, que acontece dentro do grupo, aonde algumas pessoas vão se responsabilizar por coisas por livre e espontânea vontade, como por exemplo, estas pessoas que estavam lá ajudando na montagem e que muitas delas não precisavam estar ali, pois não são do grupo, mas se disponibilizaram a estar ali, carregando peso, no sol, sem comer por horas, mas estavam, e nem por isso carregavam menos peso que as demais, ou deixavam de se preocupar com aquilo que eles carregavam, eles pareciam sentir-se parte daquilo, como se aquilo também as pertencesse (...)
A Terreira agora estava vazia, o escritório, o galpão lá do fundo... Só haviam ficado, lá no “patiozinho”, umas madeiras, e uns “carretéis” de madeira, que pareciam um banquinho e que estavam podres, e bem no meio da Terreira uma cadeira, de pé, sozinha. Vi a Terreira se esvaziar lentamente, ao longo destes dias e conseguia ver ela com tudo o que tinha antes, só por olhar aquelas paredes, pintadas de preto, com manchas de marrom e vermelho, e a escada do escritório que segundo a Paula disse o Edgar queria levar, pois achava “muito cênica”. (...)
As pessoas se arrumaram para ir descarregar o caminhão e a Judith e o Eugênio fecharam a Terreira. Na frente só ficou uma geladeira velha, perto do registro d’água. Todos foram saindo sem grande comoção. O Paulo não estava ali, ele saiu de manhã a hora que eu cheguei e depois não voltou. Todos iam, pela calçada conversando sobre assuntos diversos, ninguém olhou para trás. Pelo meio da rua ia a Tânia e o Edgar, puxando um carrinho que não tinha entrado no caminhão, parecia que eles estavam levando a Terreira em cima daquele carrinho. Fazia um dia bonito, quente e com sol. E talvez algumas pessoas nem tenham percebido que nunca mais caminhariam por aquela rua pelo mesmo motivo.
As fotos desse fragmento virão na proxima postagem....
A Terreira agora estava vazia, o escritório, o galpão lá do fundo... Só haviam ficado, lá no “patiozinho”, umas madeiras, e uns “carretéis” de madeira, que pareciam um banquinho e que estavam podres, e bem no meio da Terreira uma cadeira, de pé, sozinha. Vi a Terreira se esvaziar lentamente, ao longo destes dias e conseguia ver ela com tudo o que tinha antes, só por olhar aquelas paredes, pintadas de preto, com manchas de marrom e vermelho, e a escada do escritório que segundo a Paula disse o Edgar queria levar, pois achava “muito cênica”. (...)
As pessoas se arrumaram para ir descarregar o caminhão e a Judith e o Eugênio fecharam a Terreira. Na frente só ficou uma geladeira velha, perto do registro d’água. Todos foram saindo sem grande comoção. O Paulo não estava ali, ele saiu de manhã a hora que eu cheguei e depois não voltou. Todos iam, pela calçada conversando sobre assuntos diversos, ninguém olhou para trás. Pelo meio da rua ia a Tânia e o Edgar, puxando um carrinho que não tinha entrado no caminhão, parecia que eles estavam levando a Terreira em cima daquele carrinho. Fazia um dia bonito, quente e com sol. E talvez algumas pessoas nem tenham percebido que nunca mais caminhariam por aquela rua pelo mesmo motivo.
As fotos desse fragmento virão na proxima postagem....
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Trajeto “As ruas e ruelas do antigo Areal da Baroneza"
Apresentação: Percurso urbano descrito para o portal da VII Reunião de Antropologia MERCOSUL/RAM, realizada em Porto Alegre, em 2007.
Pontos de interesse: Museu de Porto Alegre, Travessa dos Açorianos, antiga Rua da Margem. Percurso urbano descrito para o portal da VII Reunião de Antropologia MERCOSUL/RAM, realizada em Porto Alegre, em 2007.
Início: 1ª Perimetral, limites inicias da Rua João Alfredo.
Fim: Avenida Praia de Belas com Rua da Republica
Duração: 2h, caminhada longa com subidas leves.
Autor: Olavo Marques
Tags: Rapsódias Urbanas
Contexto:
O bairro Cidade Baixa é um dos bairros centrais e mais antigos da cidade de Porto Alegre. A delimitação atual do bairro abrange as avenidas Praia de Belas, Getúlio Vargas, Venâncio Aires, João Pessoa e parte da Borges de Medeiros. Apesar das propostas de arruamento desde 1856, boa parte da Cidade Baixa permaneceu desabitada por vários anos, principalmente o trecho entre as atuais rua Venâncio Aires e Rua da República. Consistia em um terreno baixo e acidentado, cortado por árvores e capões, que dificultavam o trânsito e facilitavam os esconderijos. O lugar abrigava tanto escravos fugidos quanto bandidos. A implantação das linhas de bonde de tração animal, através do Caminho da Azenha (Av. João Pessoa) e da Rua da Margem (João Alfredo) contribuiu para a urbanização do local. A partir de1880 novas ruas foram inauguradas, como a Lopo Gonçalves e a Luiz Afonso. A atual rua Joaquim Nabuco também foi oficialmente aberta nessa época, batizada de Rua Venezianos, pois sediava o famoso grupo carnavalesco com o mesmo nome. O carnaval da Cidade Baixa era reconhecido e prestigiado na época, com destaque para os coros que movimentavam as ruas. Atualmente, o bairro se caracteriza pela grande quantidade de bares e é conhecido por ser lar dos boêmios da cidade, onde pode-se em todas as noites da semana aproveitar a madrugada, principalmente nas ruas General Lima e Silva, República e João Alfredo. Situa-se próximo ao Parque Farroupilha (também conhecido como Redenção), uma das áreas mais arborizadas da capital gaúcha. A proximidade do campus antigo da UFRGS favorece a concentração de universitários, intelectuais e artistas.
Inicio: Percorre-se, neste trajeto, caminhos de uma região de Porto Alegre antigamente reconhecida como Areal da Baronesa. Região de baixada ou várzea, cercada pelas águas, esta porção da cidade remonta um bairro popular, negro e boêmio, palco de carnavais de rua. Atualmente, permanece um local boêmio e noturno; entretanto, há um interessante circuito cultural a ser percorrido durante o dia, contando com museus, igrejas, ruas históricas, casarios de porta e janela. È fácil chegar à Cidade Baixa, bairro adjacente ao Campus Central da UFRGS. Como referência, as avenidas João Pessoa e I Perimetral possuem grande circulação de ônibus e lotações, principalmente para quem vem do Centro, da Zona Sul e Zona Leste (região Partenon). Quem vem da Zona Norte pode tomar a linha T7, da Cia. Carris, que segue as ruas Nilo Peçanha e Protásio Alves. Iniciamos o trajeto na Rua João Alfredo (antiga Rua da Margem). Curva e característica por seu casario assobradado geminado, esta rua seguia o curso do Riachinho, retificado na dec. de 50. Siga-a na direção oposta à I Perimetral, até o Museu de Porto Alegre (Joaquim José Felizardo), localizado no nº 582. Obras de referência sobre a história do Município fazem parte do Museu, assim como a fototeca Sioma Breitman - que abriga importantes documentos fotográficos de profissionais porto-alegrenses a partir do século 19 - e a Biblioteca Walter Spalding - que inclui a coleção bibliográfica daquele historiador. Destaque para a arquitetura do prédio, construído em meados do século 19, pelo comerciante Lopo Gonçalves – por isso recebe o nome Solar Lopo Gonçalves. Estes solares eram as luxuosas habitações das chácaras que ocupavam a região antes de seu loteamento, que data de fins do Séc. XIX. Siga pela João Alfredo e dobre a esquerda na Rua Lopo Goçalves; siga-a por alguns metros e à direita conhecerá a famosa Travessa dos Venezianos, que liga as Ruas Lopo Gonçalves e Joaquim Nabuco. Novamente, destaque para as casas geminadas, de “porta e janela” ou “em fita”, muitas das quais são tombadas como patrimônio do município. No local, há cafés, ateliers de artistas plásticos e uma casa de religião afro. As casas eram originalmente de aluguel, e abrigavam populações pobres e tipos populares, como prostitutas, jornaleiros, pais-de-santo, prestadores de serviço, etc. Retorne pela Lopo Gonçalves, atravesse a João Alfredo e vire à esquerda na Travessa Pesqueiro. Seguindo-a, atravesse a arborizada Av. Aureliano Figueiredo Pinto e dobre à direita na Rua Barão do Gravataí; Vire à esquerda na primeira esquina, na Rua Baronesa do Gravataí. No meio da quadra, a esquerda, encontrará a Av. Luís Guaranha, comunidade remanescente de quilombo, legatária do Areal da Baronesa (antigo território negro de Porto Alegre, descaracterizado ao longo do Séc. XX). O Areal se formou com o loteamento das chácaras da região, entre elas a chácara dos Barões de Gravataí – o que explica os nomes das ruas e mesmo do bairro. Da mesma forma que a Travessa Pesqueiro, é uma das últimas representantes destas antigas formas características de habitação popular na área (que os antigos moradores denominam avenidas). Destaque para os casarões de esquina, cuja arquitetura destaca-se das casas do entorno.Diferentemente da Travessa dos Venezianos, as casa da Luís Guaranha eram de madeira e sucumbiram à ação do tempo, sendo reconstruídas ou demolidas, dando lugar a novas construções. Retorne até a Baroneza do Gravataí e vire à esquerda, seguindo-a até a Av. Praia de Belas. Vire à direita e adiante encontrará a Fundação Pão dos Pobres, na esquina com a Rua da República, nº 801. Esta antiga fundação inclui trabalhos de Assistência Social, orfanato, escola, oficinas, etc. Destaque para a arquitetura requintada. Este antigo prédio era moradia da Baronesa do Gravataí, e, após sua morte, tornou-se organização social que há mais de um século vem desenvolvendo trabalhos com populações pobres e marginalizadas.
Pontos de interesse: Museu de Porto Alegre, Travessa dos Açorianos, antiga Rua da Margem. Percurso urbano descrito para o portal da VII Reunião de Antropologia MERCOSUL/RAM, realizada em Porto Alegre, em 2007.
Início: 1ª Perimetral, limites inicias da Rua João Alfredo.
Fim: Avenida Praia de Belas com Rua da Republica
Duração: 2h, caminhada longa com subidas leves.
Autor: Olavo Marques
Tags: Rapsódias Urbanas
Contexto:
O bairro Cidade Baixa é um dos bairros centrais e mais antigos da cidade de Porto Alegre. A delimitação atual do bairro abrange as avenidas Praia de Belas, Getúlio Vargas, Venâncio Aires, João Pessoa e parte da Borges de Medeiros. Apesar das propostas de arruamento desde 1856, boa parte da Cidade Baixa permaneceu desabitada por vários anos, principalmente o trecho entre as atuais rua Venâncio Aires e Rua da República. Consistia em um terreno baixo e acidentado, cortado por árvores e capões, que dificultavam o trânsito e facilitavam os esconderijos. O lugar abrigava tanto escravos fugidos quanto bandidos. A implantação das linhas de bonde de tração animal, através do Caminho da Azenha (Av. João Pessoa) e da Rua da Margem (João Alfredo) contribuiu para a urbanização do local. A partir de1880 novas ruas foram inauguradas, como a Lopo Gonçalves e a Luiz Afonso. A atual rua Joaquim Nabuco também foi oficialmente aberta nessa época, batizada de Rua Venezianos, pois sediava o famoso grupo carnavalesco com o mesmo nome. O carnaval da Cidade Baixa era reconhecido e prestigiado na época, com destaque para os coros que movimentavam as ruas. Atualmente, o bairro se caracteriza pela grande quantidade de bares e é conhecido por ser lar dos boêmios da cidade, onde pode-se em todas as noites da semana aproveitar a madrugada, principalmente nas ruas General Lima e Silva, República e João Alfredo. Situa-se próximo ao Parque Farroupilha (também conhecido como Redenção), uma das áreas mais arborizadas da capital gaúcha. A proximidade do campus antigo da UFRGS favorece a concentração de universitários, intelectuais e artistas.
Inicio: Percorre-se, neste trajeto, caminhos de uma região de Porto Alegre antigamente reconhecida como Areal da Baronesa. Região de baixada ou várzea, cercada pelas águas, esta porção da cidade remonta um bairro popular, negro e boêmio, palco de carnavais de rua. Atualmente, permanece um local boêmio e noturno; entretanto, há um interessante circuito cultural a ser percorrido durante o dia, contando com museus, igrejas, ruas históricas, casarios de porta e janela. È fácil chegar à Cidade Baixa, bairro adjacente ao Campus Central da UFRGS. Como referência, as avenidas João Pessoa e I Perimetral possuem grande circulação de ônibus e lotações, principalmente para quem vem do Centro, da Zona Sul e Zona Leste (região Partenon). Quem vem da Zona Norte pode tomar a linha T7, da Cia. Carris, que segue as ruas Nilo Peçanha e Protásio Alves. Iniciamos o trajeto na Rua João Alfredo (antiga Rua da Margem). Curva e característica por seu casario assobradado geminado, esta rua seguia o curso do Riachinho, retificado na dec. de 50. Siga-a na direção oposta à I Perimetral, até o Museu de Porto Alegre (Joaquim José Felizardo), localizado no nº 582. Obras de referência sobre a história do Município fazem parte do Museu, assim como a fototeca Sioma Breitman - que abriga importantes documentos fotográficos de profissionais porto-alegrenses a partir do século 19 - e a Biblioteca Walter Spalding - que inclui a coleção bibliográfica daquele historiador. Destaque para a arquitetura do prédio, construído em meados do século 19, pelo comerciante Lopo Gonçalves – por isso recebe o nome Solar Lopo Gonçalves. Estes solares eram as luxuosas habitações das chácaras que ocupavam a região antes de seu loteamento, que data de fins do Séc. XIX. Siga pela João Alfredo e dobre a esquerda na Rua Lopo Goçalves; siga-a por alguns metros e à direita conhecerá a famosa Travessa dos Venezianos, que liga as Ruas Lopo Gonçalves e Joaquim Nabuco. Novamente, destaque para as casas geminadas, de “porta e janela” ou “em fita”, muitas das quais são tombadas como patrimônio do município. No local, há cafés, ateliers de artistas plásticos e uma casa de religião afro. As casas eram originalmente de aluguel, e abrigavam populações pobres e tipos populares, como prostitutas, jornaleiros, pais-de-santo, prestadores de serviço, etc. Retorne pela Lopo Gonçalves, atravesse a João Alfredo e vire à esquerda na Travessa Pesqueiro. Seguindo-a, atravesse a arborizada Av. Aureliano Figueiredo Pinto e dobre à direita na Rua Barão do Gravataí; Vire à esquerda na primeira esquina, na Rua Baronesa do Gravataí. No meio da quadra, a esquerda, encontrará a Av. Luís Guaranha, comunidade remanescente de quilombo, legatária do Areal da Baronesa (antigo território negro de Porto Alegre, descaracterizado ao longo do Séc. XX). O Areal se formou com o loteamento das chácaras da região, entre elas a chácara dos Barões de Gravataí – o que explica os nomes das ruas e mesmo do bairro. Da mesma forma que a Travessa Pesqueiro, é uma das últimas representantes destas antigas formas características de habitação popular na área (que os antigos moradores denominam avenidas). Destaque para os casarões de esquina, cuja arquitetura destaca-se das casas do entorno.Diferentemente da Travessa dos Venezianos, as casa da Luís Guaranha eram de madeira e sucumbiram à ação do tempo, sendo reconstruídas ou demolidas, dando lugar a novas construções. Retorne até a Baroneza do Gravataí e vire à esquerda, seguindo-a até a Av. Praia de Belas. Vire à direita e adiante encontrará a Fundação Pão dos Pobres, na esquina com a Rua da República, nº 801. Esta antiga fundação inclui trabalhos de Assistência Social, orfanato, escola, oficinas, etc. Destaque para a arquitetura requintada. Este antigo prédio era moradia da Baronesa do Gravataí, e, após sua morte, tornou-se organização social que há mais de um século vem desenvolvendo trabalhos com populações pobres e marginalizadas.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Vendendo DVD na Rua Voluntários da Pátria
Apresentação: O diário de campo da aprendiz de antropóloga apresenta estratégias de propagandas, vendas para transeuntes e a disposição no espaço público relacionado aos vendedores ambulantes da Rua Voluntários da Pátria. Nos fragmentos textuais, os nomes dos informantes foram trocados para preservar suas identidades.
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, itinerários urbanos e patrimônio etnológico: a criação de um museu virtual. – FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Priscila Farfan Barroso. Bolsista IC FAPERGS
Data de produção: 25/05/2007 e 8/05/2007
Tags: Rapsódias Urbanas
“Um cliente procura pelo DVD do “Homem aranha 3”, e parece que Ângelo não tem. (...) Um casal bem arrumado observa os produtos exibidos e chama a atenção do vendedor, então este mostra seu arsenal [de produtos]. “Ai!”diz casando o senhor do “COMPRO, VENDO E DESBLOQUEIO CELULAR”. Apontam o “Homem aranha 3” dublado, e Diego retira da armação para que eles possam analisar melhor. A namorada segura os três DVDs e o rapaz paga, como um bom cavalheiro. Ângelo põe um “selinho” no produto, caso a pessoa queira trocar. Ou seja, podemos perceber que no atendimento dos clientes Fábio cuida mais do atendimento, e Ângelo troca o dinheiro e passa credibilidade do produto. È claro que não existe estabilidade nesse processo, os dois fazem de tudo um pouco, mas trata-se de uma dupla, e não um vendedor com seus produtos. (...) Depois de mais uma compra, Diego aproveita para ajeitar os DVDs que não foram aceitos na armação. Chega mais um cliente e pede pelo “Homem aranha 3”.”
“Não estava muito criativa, e sentei no mesmo lugar da última saída [de campo], em frente à galeria. “CHEGOU O DVD DO HOMEM ARANHA”, e lá estavam eles apresentando o lançamento. Eu estava com muito frio, e não era a única, os ambulantes [estavam] bem vestidos, com calça, blusões de frio, alguns com gorro, realmente essa temperatura nada amena deixa as pessoas mais arrumadas, [em minha opinião]. Um deles (vendedor ambulante) tinha o cabelo bem cortado, com uma blusa de lã preta, calça jeans e sapato caramelo. “HOMEM ARANHA, HOMEM ARANHA, HOMEM ARANHA AQUI”. Eu já tinha ouvido falar desse lançamento no cinema, e até fui convidada por um colega para assistir, como uma boa menina tinha interesse mais na produção hollywoodiana do que em saber da história.
“HOMEM ARANHA DUBLADO, VAMOS QUE EU QUERO GANHAR MAIS DINHEIRO!”. Atrás de mim, alguém da galeria chama um dos ambulantes, como fazia parte do roteiro, observei esses entrosamentos entre lojistas e vendedores da rua. “Dublado só eu tenho, imagem boa, homem aranha!”, eles conversaram um pouco, e o menino voltou pro seu posto. Escuto de um pedestre caminhando por ali “Estreou sexta-feira, e já tem em dvd!”, pois é minha cara a malandragem da rua faz sua propaganda ao mesmo tempo que as grandes agências de publicidade.”
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, itinerários urbanos e patrimônio etnológico: a criação de um museu virtual. – FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Priscila Farfan Barroso. Bolsista IC FAPERGS
Data de produção: 25/05/2007 e 8/05/2007
Tags: Rapsódias Urbanas
“Um cliente procura pelo DVD do “Homem aranha 3”, e parece que Ângelo não tem. (...) Um casal bem arrumado observa os produtos exibidos e chama a atenção do vendedor, então este mostra seu arsenal [de produtos]. “Ai!”diz casando o senhor do “COMPRO, VENDO E DESBLOQUEIO CELULAR”. Apontam o “Homem aranha 3” dublado, e Diego retira da armação para que eles possam analisar melhor. A namorada segura os três DVDs e o rapaz paga, como um bom cavalheiro. Ângelo põe um “selinho” no produto, caso a pessoa queira trocar. Ou seja, podemos perceber que no atendimento dos clientes Fábio cuida mais do atendimento, e Ângelo troca o dinheiro e passa credibilidade do produto. È claro que não existe estabilidade nesse processo, os dois fazem de tudo um pouco, mas trata-se de uma dupla, e não um vendedor com seus produtos. (...) Depois de mais uma compra, Diego aproveita para ajeitar os DVDs que não foram aceitos na armação. Chega mais um cliente e pede pelo “Homem aranha 3”.”
“Não estava muito criativa, e sentei no mesmo lugar da última saída [de campo], em frente à galeria. “CHEGOU O DVD DO HOMEM ARANHA”, e lá estavam eles apresentando o lançamento. Eu estava com muito frio, e não era a única, os ambulantes [estavam] bem vestidos, com calça, blusões de frio, alguns com gorro, realmente essa temperatura nada amena deixa as pessoas mais arrumadas, [em minha opinião]. Um deles (vendedor ambulante) tinha o cabelo bem cortado, com uma blusa de lã preta, calça jeans e sapato caramelo. “HOMEM ARANHA, HOMEM ARANHA, HOMEM ARANHA AQUI”. Eu já tinha ouvido falar desse lançamento no cinema, e até fui convidada por um colega para assistir, como uma boa menina tinha interesse mais na produção hollywoodiana do que em saber da história.
“HOMEM ARANHA DUBLADO, VAMOS QUE EU QUERO GANHAR MAIS DINHEIRO!”. Atrás de mim, alguém da galeria chama um dos ambulantes, como fazia parte do roteiro, observei esses entrosamentos entre lojistas e vendedores da rua. “Dublado só eu tenho, imagem boa, homem aranha!”, eles conversaram um pouco, e o menino voltou pro seu posto. Escuto de um pedestre caminhando por ali “Estreou sexta-feira, e já tem em dvd!”, pois é minha cara a malandragem da rua faz sua propaganda ao mesmo tempo que as grandes agências de publicidade.”
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
SIC - 2009
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Saída de campo em Cachoeira do Sul - 2004
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
XVIII Feira de Iniciação Científica
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Uma breve conversa sobre o trabalho de campo
Apresentação: Em um encontro "casual" com o filho de um dos interlocutores da pesquisa, conversamos sobre seu pai e alguns rumos do trabalho de campo. Este fragmento de texto traz algumas das anotações feitas neste dia, 27 de maio, e que vem à tona no diário da saída de campo realizada posteriormente.
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção do Projeto BIEV: A criação de um museu virtual da cidade - FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Stéphanie Ferreira Bexiga (Bolsista PIBIC/CNPq)
Local: Porto Alegre/RS
Data: 07/06/09
Tags: Caderno de Notas
Encontrei, num outro dia, o filho de Dennis, meu amigo Daniel, para lhe perguntar sobre seu pai e avisar que eu ia ligar pra ele uma hora dessas. Nessa breve conversa, Daniel me fala que sua tia (irmã de Dennis) vai adorar conversar comigo, que ela é uma pessoa que guarda muita coisa: “no dia do casamento, lembra? (o mesmo dia em que conheci dona Neusa), eu dei carona pra ela e ela tava reclamando que a gente (ele e seu irmão) não dá bola pra história da família, mas que um dia a gente vai dar”. “Ela tem fotos da família, ih, muita coisa...”. E quando lhe conto que havia uma pedreira aqui na Tristeza, ele diz: “mas lá onde eu moro também tinha, eu me lembro, acho que já tava desativada, mas eu lembro (...) meu avô, por parte de mãe, era cortador de pedra, tanto é que ele morreu de câncer no pulmão (...)”.
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção do Projeto BIEV: A criação de um museu virtual da cidade - FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Stéphanie Ferreira Bexiga (Bolsista PIBIC/CNPq)
Local: Porto Alegre/RS
Data: 07/06/09
Tags: Caderno de Notas
Encontrei, num outro dia, o filho de Dennis, meu amigo Daniel, para lhe perguntar sobre seu pai e avisar que eu ia ligar pra ele uma hora dessas. Nessa breve conversa, Daniel me fala que sua tia (irmã de Dennis) vai adorar conversar comigo, que ela é uma pessoa que guarda muita coisa: “no dia do casamento, lembra? (o mesmo dia em que conheci dona Neusa), eu dei carona pra ela e ela tava reclamando que a gente (ele e seu irmão) não dá bola pra história da família, mas que um dia a gente vai dar”. “Ela tem fotos da família, ih, muita coisa...”. E quando lhe conto que havia uma pedreira aqui na Tristeza, ele diz: “mas lá onde eu moro também tinha, eu me lembro, acho que já tava desativada, mas eu lembro (...) meu avô, por parte de mãe, era cortador de pedra, tanto é que ele morreu de câncer no pulmão (...)”.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Uma aventura no interior do Linha 2
Apresentação: No percurso em direção ao campo, a aprendiz de antropóloga vivencia a experiência de deslocamento em um local que lhe é estranho ao mesmo tempo em que se depara com vulnerabilidade existente no interior do transporte coletivo.
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção do Projeto Cidade e Memória: a cultura do trânsito em Porto Alegre, RS.
Autor: Luciana Tubello Caldas (Bolsista de IC/CNPq)
Local: Alvorada/RS
Data: 23 de abril de 2009
Tags: Os Interiores da Escrita Etnográfica
Parecia que o ônibus não sabia andar em linha reta, mal ele dobrava a esquerda e já dobrava a direita. Enquanto eu olhava atentamente através da janela na expectativa de descobrir onde eu estava o cobrador me interpelou e perguntou: “Essa Santos Dumont é na Figueira, né?”. Respondi que sim, e após uma pausa eu perguntei: “E aqui? Onde é que é? É a Salomé?”. Rapidamente o cobrador me respondeu que não que ali era a Cedro. Nesse momento o ônibus já parava para alguns desembarques, o ônibus começará a esvaziar. Um lugar logo em frente ao cobrador (no lado da porta de embarque) havia vagado. Era um daqueles bancos mais elevados, onde a cabeça do passageiro ficava alinhada com a abertura da janela. Acenei para o cobrador dizendo que iria sentar ali. Fiquei sentada na parte do banco que dava para o corredor, pois o lado da janela estava ocupado por uma mulher negra que aparentava ter uns 40 anos. O relógio marcava 13h55min. Não sabia onde estava... O ônibus continuava dando muitas voltas... Balançava... Dava mais voltas... E balançava cada vez mais... Eu estava tensa... Muitos passageiros desembarcavam... Inclusive a senhora negra que estava ao meu lado. Levantei-me para dar espaço para ela sair. E ela seguiu em direção a porta dianteira para desembarcar. Voltei para o meu lugar no banco. Permaneci no lado do corredor. Queria ter uma perspectiva das duas janelas. O ônibus continuava dando muitas voltas e as casas que faziam parte da paisagem continuavam se alterando em seus estilos. A única mudança ocorrida eram os extensos descampados que se agregavam a paisagem urbana. As ruas se encontravam praticamente desabitadas. O ônibus passava por mais descampados, não percebi nenhum movimento de pessoas. Quando olhei para a janela vi um objeto que vinha voando em minha direção. Mesmo sem identificar direito o que era virei o rosto, mesmo assim esse movimento não foi o suficiente para evitar que a pedra (sim! Era uma pedra!), lançada contra o ônibus e que entrou pela janela, atingisse o meu rosto. Depois do choque, senti uma dormência na bochecha. Olhei ao meu redor... Ninguém havia percebido o ocorrido, pensei em olhar para trás e ver se o cobrador havia presenciado, mas achei melhor manter uma cara e postura de paisagem e não pagar mico. Levei minha mão ao rosto, estava dormente e dolorido. Olhei novamente pela janela e o descampado já não estava mais diante da minha visão. Pensei que assim como foi uma pedra, poderia ter sido um tiro. Fiquei imaginando quem havia jogado aquela pedra... Não tinha visto ninguém ali. Levei novamente a mão ao rosto, não estava mais dormente, mas estava com uma sensação de ardência na bochecha. Olhei para o banco e para o chão na expectativa de encontrar a pedra, mas era inútil, ela havia desaparecido.
Ainda meio dolorida e atordoada pelo ocorrido percebi que o cobrador estava do meu lado e dizia: “A Rua Santos Dumont é a próxima, pergunta pro motorista onde fica a parada que tu quer descer”. Agradeci ao cobrador e fui em direção ao motorista. Sentei num banco que era reservado aos idosos e que ficava bem atrás do motorista, me inclinei e pedi para que ele me avisasse quando chegasse na Rua Santos Dumont, na parada de ônibus em frente ao supermercado AMPA. O motorista, bem solícito, disse que sim, que avisaria e que estava perto. Ele fez alguns gestos com a mão me mostrando uma rua que estava a sua esquerda e falando alguma coisa. Mas não pude entender nada, o som do motor era ensurdecedor e a minha única reação diante da explicação do motorista foi fazer um “Ahã”, já que eu não ouvia nada. Olhei pelo retrovisor do motorista na expectativa de ver se meu rosto estava inchado, mas não pude perceber nada de diferente, a única coisa que era perceptível era a dor que eu estava sentindo. O motorista se inclinou para trás e disse: “é na próxima”. Rapidamente me dirigi para a porta de desembarque que estava praticamente em minha frente. O motorista dobrou uma rua à esquerda e logo em seguida parou. A porta de desembarque se abriu e ao mesmo tempo em que desembarcava eu também agradecia ao motorista.Em terra firme! Já estava mais tranqüila...
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção do Projeto Cidade e Memória: a cultura do trânsito em Porto Alegre, RS.
Autor: Luciana Tubello Caldas (Bolsista de IC/CNPq)
Local: Alvorada/RS
Data: 23 de abril de 2009
Tags: Os Interiores da Escrita Etnográfica
Parecia que o ônibus não sabia andar em linha reta, mal ele dobrava a esquerda e já dobrava a direita. Enquanto eu olhava atentamente através da janela na expectativa de descobrir onde eu estava o cobrador me interpelou e perguntou: “Essa Santos Dumont é na Figueira, né?”. Respondi que sim, e após uma pausa eu perguntei: “E aqui? Onde é que é? É a Salomé?”. Rapidamente o cobrador me respondeu que não que ali era a Cedro. Nesse momento o ônibus já parava para alguns desembarques, o ônibus começará a esvaziar. Um lugar logo em frente ao cobrador (no lado da porta de embarque) havia vagado. Era um daqueles bancos mais elevados, onde a cabeça do passageiro ficava alinhada com a abertura da janela. Acenei para o cobrador dizendo que iria sentar ali. Fiquei sentada na parte do banco que dava para o corredor, pois o lado da janela estava ocupado por uma mulher negra que aparentava ter uns 40 anos. O relógio marcava 13h55min. Não sabia onde estava... O ônibus continuava dando muitas voltas... Balançava... Dava mais voltas... E balançava cada vez mais... Eu estava tensa... Muitos passageiros desembarcavam... Inclusive a senhora negra que estava ao meu lado. Levantei-me para dar espaço para ela sair. E ela seguiu em direção a porta dianteira para desembarcar. Voltei para o meu lugar no banco. Permaneci no lado do corredor. Queria ter uma perspectiva das duas janelas. O ônibus continuava dando muitas voltas e as casas que faziam parte da paisagem continuavam se alterando em seus estilos. A única mudança ocorrida eram os extensos descampados que se agregavam a paisagem urbana. As ruas se encontravam praticamente desabitadas. O ônibus passava por mais descampados, não percebi nenhum movimento de pessoas. Quando olhei para a janela vi um objeto que vinha voando em minha direção. Mesmo sem identificar direito o que era virei o rosto, mesmo assim esse movimento não foi o suficiente para evitar que a pedra (sim! Era uma pedra!), lançada contra o ônibus e que entrou pela janela, atingisse o meu rosto. Depois do choque, senti uma dormência na bochecha. Olhei ao meu redor... Ninguém havia percebido o ocorrido, pensei em olhar para trás e ver se o cobrador havia presenciado, mas achei melhor manter uma cara e postura de paisagem e não pagar mico. Levei minha mão ao rosto, estava dormente e dolorido. Olhei novamente pela janela e o descampado já não estava mais diante da minha visão. Pensei que assim como foi uma pedra, poderia ter sido um tiro. Fiquei imaginando quem havia jogado aquela pedra... Não tinha visto ninguém ali. Levei novamente a mão ao rosto, não estava mais dormente, mas estava com uma sensação de ardência na bochecha. Olhei para o banco e para o chão na expectativa de encontrar a pedra, mas era inútil, ela havia desaparecido.
Ainda meio dolorida e atordoada pelo ocorrido percebi que o cobrador estava do meu lado e dizia: “A Rua Santos Dumont é a próxima, pergunta pro motorista onde fica a parada que tu quer descer”. Agradeci ao cobrador e fui em direção ao motorista. Sentei num banco que era reservado aos idosos e que ficava bem atrás do motorista, me inclinei e pedi para que ele me avisasse quando chegasse na Rua Santos Dumont, na parada de ônibus em frente ao supermercado AMPA. O motorista, bem solícito, disse que sim, que avisaria e que estava perto. Ele fez alguns gestos com a mão me mostrando uma rua que estava a sua esquerda e falando alguma coisa. Mas não pude entender nada, o som do motor era ensurdecedor e a minha única reação diante da explicação do motorista foi fazer um “Ahã”, já que eu não ouvia nada. Olhei pelo retrovisor do motorista na expectativa de ver se meu rosto estava inchado, mas não pude perceber nada de diferente, a única coisa que era perceptível era a dor que eu estava sentindo. O motorista se inclinou para trás e disse: “é na próxima”. Rapidamente me dirigi para a porta de desembarque que estava praticamente em minha frente. O motorista dobrou uma rua à esquerda e logo em seguida parou. A porta de desembarque se abriu e ao mesmo tempo em que desembarcava eu também agradecia ao motorista.Em terra firme! Já estava mais tranqüila...
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Poeira do Tempo - Missões
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
O observar-participar da Rua Voluntários da Pátria
Apresentação: Roteiro de saída de campo a fim de conhecer um pouco mais alguns personagens da rua Voluntários da Pátria, os vendedores ambulantes.
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, itinerários urbanos e patrimônio etnológico: a criação de um museu virtual. – FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Priscila Farfan Barroso – Bolsista IC/FAPERGS
Local: Bairro Centro - Porto Alegre/RS
Data de Produção: 09/02/2007
Tags: Os Bastidores do Trabalho de Campo
Para esta saída penso ser importante debruçar-me um pouco mais nos sujeitos (vendedores ambulantes) que preenchem a Rua Voluntários da Pátria, ou seja, atentar mais a esses personagens urbanos que remetem a uma “cultura popular”. Por isso a fim de entender as mediações simbólicas utilizadas por estes para oferecer os produtos seria interessante interagir um pouco mais, ainda na linha da observação participante, seja através da compra, ou mesmo observando mais atentamente o modo como organizam os produtos, quais produtos estão ali, quem cuida, quem oferece, etc.
Nesse intuito de concentrar-me em um ou dois vendedores já teria um panorama sobre o estilo de vida desse trabalhador que utiliza a rua em condições precárias para manter seu sustento. E ao mesmo tempo a possibilidade de notar algum informante potencial para me ajudar com informações nesta pesquisa relacionado as “artes de propagandiar.”
Então, ao caminhar com esta preocupação, poderei perceber as variadas ambiências por quais passo, ou seja, como estarei numa rua com diferentes disposições ao longo do seu trajeto, cada altura tenho um recorte outro devido a complexidade que se instala nesse local, e assim, espero conseguir configurar um pouco dessas sonoridades do ambiente.
Itinerário – entrarei na Rua Voluntários da Pátria através da Rua Osvaldo Aranha, caminharei devagar em direção ao Mercado Público, e voltarei ao ponto de origem. Depois seguirei conforme as necessidades.
Contexto – centro de Porto Alegre, na época do “Liquida Porto Alegre” em que os preços estão mais baixos para eliminar estoques, ainda férias escolares...
Duração - uma hora e meia
Para depois do campo – escrita do diário de campo, separando o que for observador total, observador-como-participante, participante-como-observador, e participante total para se dar conta dos processos acontecido em campo e analisar sua riqueza.
Para antes do campo – leitura do “Teoria e método em Pesquisa de Campo” de Aaron Cicourel
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, itinerários urbanos e patrimônio etnológico: a criação de um museu virtual. – FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Priscila Farfan Barroso – Bolsista IC/FAPERGS
Local: Bairro Centro - Porto Alegre/RS
Data de Produção: 09/02/2007
Tags: Os Bastidores do Trabalho de Campo
Para esta saída penso ser importante debruçar-me um pouco mais nos sujeitos (vendedores ambulantes) que preenchem a Rua Voluntários da Pátria, ou seja, atentar mais a esses personagens urbanos que remetem a uma “cultura popular”. Por isso a fim de entender as mediações simbólicas utilizadas por estes para oferecer os produtos seria interessante interagir um pouco mais, ainda na linha da observação participante, seja através da compra, ou mesmo observando mais atentamente o modo como organizam os produtos, quais produtos estão ali, quem cuida, quem oferece, etc.
Nesse intuito de concentrar-me em um ou dois vendedores já teria um panorama sobre o estilo de vida desse trabalhador que utiliza a rua em condições precárias para manter seu sustento. E ao mesmo tempo a possibilidade de notar algum informante potencial para me ajudar com informações nesta pesquisa relacionado as “artes de propagandiar.”
Então, ao caminhar com esta preocupação, poderei perceber as variadas ambiências por quais passo, ou seja, como estarei numa rua com diferentes disposições ao longo do seu trajeto, cada altura tenho um recorte outro devido a complexidade que se instala nesse local, e assim, espero conseguir configurar um pouco dessas sonoridades do ambiente.
Itinerário – entrarei na Rua Voluntários da Pátria através da Rua Osvaldo Aranha, caminharei devagar em direção ao Mercado Público, e voltarei ao ponto de origem. Depois seguirei conforme as necessidades.
Contexto – centro de Porto Alegre, na época do “Liquida Porto Alegre” em que os preços estão mais baixos para eliminar estoques, ainda férias escolares...
Duração - uma hora e meia
Para depois do campo – escrita do diário de campo, separando o que for observador total, observador-como-participante, participante-como-observador, e participante total para se dar conta dos processos acontecido em campo e analisar sua riqueza.
Para antes do campo – leitura do “Teoria e método em Pesquisa de Campo” de Aaron Cicourel
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Preparação e Abertura da VII RAM
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
BIEV - 1998
sábado, 26 de setembro de 2009
Do Livro à Memoria, a Primeira Entrevista...
Apresentação: Essa entrevista com Guilherme (Hilel) tratará de um tipo de memória chamada de traumática, apesar de não demonstrar isso aos olhos de quem fala com ele, é quase impossível que todos esses acontecimentos não tenham sido difíceis de superar.
Fundo de Origem: BIEV/LAS/NUPECS/PPGAS
Fonte: Pesquisa antropológica com processos de modelização da memória coletiva e de extroversão de acervos – CNPq (alcr)
Autor: Pedro da Rocha Paim – bolsista BIT CNPq
Data de Produção: 12/09/09
Local: Bairro Santana
Tags: Os Bastidores do Trabalho de Campo
O livro:
• Como foi escrever sobre todas essas atrocidades cometidas contra sua própria família?
• Pelo que li no livro as visões começaram quando você ainda era jovem, você teve alguma que não está no livro? Se sim, conte-me ela e essas visões ajudaram a não desistir de sobreviver?
• Gostaria de saber como é possível não ter ódio por alguém que faz algumas das coisas descritas no livro?
• Qual a sensação no momento de rever os parentes mesmo para uma criança que “não sabe” da guerra? E de saber que a guerra acabou?
• A mensagem que é passada durante todo o livro é de que não devemos ensinar as crianças a vingança ou o medo. Esses sentimentos não são naturais, a paz descrita no livro é realmente possível ou apenas um desejo de um grande HUMANO?
A vida na Europa:
• No livro você descreve algumas partes quase como um antropólogo, foi você que deu a descrição? Se sim, gostaria que descrevesse algumas cidades além da que nasceste (Serniky).
• Mesmo sendo muito novo você consegue comparar a Europa daquele tempo e o Brasil de quando você chegou?
• Qual o seu sentimento quando teve certeza que viria para o Brasil? E quando chegou?
Fundo de Origem: BIEV/LAS/NUPECS/PPGAS
Fonte: Pesquisa antropológica com processos de modelização da memória coletiva e de extroversão de acervos – CNPq (alcr)
Autor: Pedro da Rocha Paim – bolsista BIT CNPq
Data de Produção: 12/09/09
Local: Bairro Santana
Tags: Os Bastidores do Trabalho de Campo
O livro:
• Como foi escrever sobre todas essas atrocidades cometidas contra sua própria família?
• Pelo que li no livro as visões começaram quando você ainda era jovem, você teve alguma que não está no livro? Se sim, conte-me ela e essas visões ajudaram a não desistir de sobreviver?
• Gostaria de saber como é possível não ter ódio por alguém que faz algumas das coisas descritas no livro?
• Qual a sensação no momento de rever os parentes mesmo para uma criança que “não sabe” da guerra? E de saber que a guerra acabou?
• A mensagem que é passada durante todo o livro é de que não devemos ensinar as crianças a vingança ou o medo. Esses sentimentos não são naturais, a paz descrita no livro é realmente possível ou apenas um desejo de um grande HUMANO?
A vida na Europa:
• No livro você descreve algumas partes quase como um antropólogo, foi você que deu a descrição? Se sim, gostaria que descrevesse algumas cidades além da que nasceste (Serniky).
• Mesmo sendo muito novo você consegue comparar a Europa daquele tempo e o Brasil de quando você chegou?
• Qual o seu sentimento quando teve certeza que viria para o Brasil? E quando chegou?
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
GT de Texto 2004
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Notas em Video e Som... Meandros da Entrevista...
Apresentação: A transcrição da entrevista é tarefa primordial para o bom andamento da pesquisa. No entanto, quando falamos e estudamos memória em um mundo urbano contemporâneo, é preciso pensar como estas novas mídias e tecnologias podem ajudar a entender melhor as dinâmicas e o jogo das memórias e sociabilidades que se desenrolam durante a entrevista em campo e também durante todo o trabalho de campo...
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção projeto: Criação do site do BIEV - CNPq/FAPERGS (ALCR)
Autor: Rafael Lopo – Bolsista de PIBIC/CNPq - Entrevista com seu João Carlos
Local: Porto Alegre/RS
Data de produção: 23/07/2009
Tags: Caderno de Notas
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Coleção projeto: Criação do site do BIEV - CNPq/FAPERGS (ALCR)
Autor: Rafael Lopo – Bolsista de PIBIC/CNPq - Entrevista com seu João Carlos
Local: Porto Alegre/RS
Data de produção: 23/07/2009
Tags: Caderno de Notas
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Saída a campo na Ilha das Pintadas
sábado, 19 de setembro de 2009
Reaproximar-se das Famílias
Apresentação: No percurso em direção ao campo, Anelise reflete sobre a condição de uma pesquisadora - ela mesma - que trabalha com o tema da "família" mas que se vê afastada tanto da sua, como daquela de sua informante. E é na tentativa de reverter essa situação, retomando o contato com essa outra "família", que ela se depara com as exigências da "vida familiar".
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Antropologia das crises na vida cotidiana da metrópole de Porto Alegre, RS - CNPq (CE)
Autor: Anelise Gutterres - Mestranda em Antropologia Social (UFRGS)
Local: Bairro Centro - Porto Alegre/RS
Data de Produção: 15/08/2008
Tags: Os Interiores da Escrita Etnográfica
Segunda-feira torci para que o dia passasse rápido, coisa que não aconteceu exatamente. Lá pelo fim da manhã, me dou conta que não tinha planejado nenhum tipo de gravação. Chovia sem parar, meu guarda-chuva virou para cima durante todo o percurso entre os campi da UFRGS. Percursos que fui obrigada a fazer carregada de livros e com os pés molhados. Tava me sentido péssima, cansada, enjoada e nesse ritmo a noite foi chegando sem esperar pelo meu descanso. Saí da aula, peguei uma pequena câmera Sony na casa do meu irmão caso me requisitassem uma foto comemorativa, coisa que não aconteceu. Todo essa ansiedade e esse mal estar, sentada aqui me parece evidente, tinha uma razão bem clara. Eu estava muito afastada dessa família. E família é família, provava-me a insistência minuciosa da minha mãe, na última sexta-feira, em divulgar-me as datas de aniversário e ordens festivas, função que ela começou a ocupar de uns anos para cá, na tentativa de que eu visse «a família» com mais regularidade. O convívio familiar percebi ao pensar sobre a definição dessa «vida familiar» - que inclui as relações entre netos, filhos, mães, pais, tios - têm uma escala microscópica e dicotômica: ao mesmo tempo que não perdoa grandes afastamentos, têm o maior prazer em lhe colocar a par das «novidades» a medida que você diz que se lembra de alguma ocasião familiar, de alguém ou do que foi dito nela e pede para ser re-atualizado. Essa noite na casa de Ainsley foi uma noite para que eu pudesse pensar nesses afastamentos e aproximações. E nessa relação do meu trabalho com o cotidiano dessa família.
Entrei numa loja de 1,99 atrás de um conjunto de velas bonito, que não saísse mais do que dez reais, que era o que eu tinha para o presente. Escolhi, peguei junto uma embalagem e coloquei as velas dentro. Precisei esperar o pessoal do caixa terminar a conversa para que eu pudesse pagar e sumir rapidamente daquela loja com luz «fria» e trilha sonora da jovem pan. Subi a Rua Dr. Flores, cruzei uma Avenida Salgado filho insuportável, em sua mistura de garoa, fim de tarde abafado, buzina, congestionamento e gás carbônico grudando no rosto com o suor dos blusões de lã deslocados e os casacos carregados no braço. Cheguei até a parada embaixo do viaduto da Avenida Duque de Caxias e aguardei pelo ônibus Serraria por uns quinze minutos. A hora era a hora: do deslocamento. Todos estavam indo ou para casa, ou para o trabalho, ou para a faculdade, ou para o curso, ou para academia, ou para o bar. Os ônibus faziam fila, fazendo o vivente ter que correr atrás das portas abertas bem adiante do ponto da parada. Jovens apressados, vendedores de flores, de balas, pedintes; o céu ficando escuro, a chuva mais forte e o clima térmico mais indeciso ainda do que antes. Subi no ônibus torcendo por um lugar, pois tinha algumas coisas para ler «na viagem», alternativa que abdiquei logo em seguida, através de um sorriso de negação a mim mesma. Pus-me a assumir aquele estado de campo, na busca daquele olhar que a cidade precisava que eu tivesse já que eu estava pesquisando ela, nela. Um olhar de alguém que não estava indo visitar uma amiga, passear na zona sul ou jogar papo fora numa comemoração de aniversário. Nesse momento, juntei todas as expectativas e transformei em vigilâncias, reuni todas as imagens mentais do passado e do futuro e as pus a postos a fim de serem articuladas, acionadas pelas situações que viveria dali para frente.
Fundo de Origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Antropologia das crises na vida cotidiana da metrópole de Porto Alegre, RS - CNPq (CE)
Autor: Anelise Gutterres - Mestranda em Antropologia Social (UFRGS)
Local: Bairro Centro - Porto Alegre/RS
Data de Produção: 15/08/2008
Tags: Os Interiores da Escrita Etnográfica
Segunda-feira torci para que o dia passasse rápido, coisa que não aconteceu exatamente. Lá pelo fim da manhã, me dou conta que não tinha planejado nenhum tipo de gravação. Chovia sem parar, meu guarda-chuva virou para cima durante todo o percurso entre os campi da UFRGS. Percursos que fui obrigada a fazer carregada de livros e com os pés molhados. Tava me sentido péssima, cansada, enjoada e nesse ritmo a noite foi chegando sem esperar pelo meu descanso. Saí da aula, peguei uma pequena câmera Sony na casa do meu irmão caso me requisitassem uma foto comemorativa, coisa que não aconteceu. Todo essa ansiedade e esse mal estar, sentada aqui me parece evidente, tinha uma razão bem clara. Eu estava muito afastada dessa família. E família é família, provava-me a insistência minuciosa da minha mãe, na última sexta-feira, em divulgar-me as datas de aniversário e ordens festivas, função que ela começou a ocupar de uns anos para cá, na tentativa de que eu visse «a família» com mais regularidade. O convívio familiar percebi ao pensar sobre a definição dessa «vida familiar» - que inclui as relações entre netos, filhos, mães, pais, tios - têm uma escala microscópica e dicotômica: ao mesmo tempo que não perdoa grandes afastamentos, têm o maior prazer em lhe colocar a par das «novidades» a medida que você diz que se lembra de alguma ocasião familiar, de alguém ou do que foi dito nela e pede para ser re-atualizado. Essa noite na casa de Ainsley foi uma noite para que eu pudesse pensar nesses afastamentos e aproximações. E nessa relação do meu trabalho com o cotidiano dessa família.
Entrei numa loja de 1,99 atrás de um conjunto de velas bonito, que não saísse mais do que dez reais, que era o que eu tinha para o presente. Escolhi, peguei junto uma embalagem e coloquei as velas dentro. Precisei esperar o pessoal do caixa terminar a conversa para que eu pudesse pagar e sumir rapidamente daquela loja com luz «fria» e trilha sonora da jovem pan. Subi a Rua Dr. Flores, cruzei uma Avenida Salgado filho insuportável, em sua mistura de garoa, fim de tarde abafado, buzina, congestionamento e gás carbônico grudando no rosto com o suor dos blusões de lã deslocados e os casacos carregados no braço. Cheguei até a parada embaixo do viaduto da Avenida Duque de Caxias e aguardei pelo ônibus Serraria por uns quinze minutos. A hora era a hora: do deslocamento. Todos estavam indo ou para casa, ou para o trabalho, ou para a faculdade, ou para o curso, ou para academia, ou para o bar. Os ônibus faziam fila, fazendo o vivente ter que correr atrás das portas abertas bem adiante do ponto da parada. Jovens apressados, vendedores de flores, de balas, pedintes; o céu ficando escuro, a chuva mais forte e o clima térmico mais indeciso ainda do que antes. Subi no ônibus torcendo por um lugar, pois tinha algumas coisas para ler «na viagem», alternativa que abdiquei logo em seguida, através de um sorriso de negação a mim mesma. Pus-me a assumir aquele estado de campo, na busca daquele olhar que a cidade precisava que eu tivesse já que eu estava pesquisando ela, nela. Um olhar de alguém que não estava indo visitar uma amiga, passear na zona sul ou jogar papo fora numa comemoração de aniversário. Nesse momento, juntei todas as expectativas e transformei em vigilâncias, reuni todas as imagens mentais do passado e do futuro e as pus a postos a fim de serem articuladas, acionadas pelas situações que viveria dali para frente.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
BIEV na RAM
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